PINGO DE ESPERANÇA
Da terra árida e seca
Que nem uma gota d'água tem
A esperança se resseca
E a mágoa se retém
A alegria que se tinha
Aos poucos se vai morrendo
As lágrimas que se continham
Mesmo que não as querendo
Tendem a deslizar
De pés descalços e calejados
Que pisam a terra dura
Lembranças do pobre passado
Nem as dores ele cura
E a plantação escassa
De raízes e espinhos
Que nem a enxada passa
E pobre dos piazinhos
Que de fome se arrasa
Não aguentam a tristeza
E do sol torrando em brasa
Que a chuva não deixa cair
A mãe triste consola
O filhinho para sorrir
E de toda esperança se isola
A vontade de se viver
Pois num chão todo marcado
Pela seca nordestina
O pai desconsolado
Guarda no peito a sina
Que um dia quem sabe lá
Deus, o Nosso Senhor
Vá o caboclo ajudar
E na refeição do lamento
A mesa de tábua serrada
Guarda naquele momento
A tristeza das mãos calejadas
E resguarda no pensamento
Do que ali acontece
E com uma rápida prece
No fundo do coração
E na terra dura do chão
Onde caminha a criança
Ainda existe
Um pequenino Pingo de Esperança