domingo, 28 de março de 2021

E se a madeira da cruz expressasse suas emoções?

Did Jesus Go to Hell? - Where was Christ between the Cross and ...

O LENHO DA CRUZ

Eu fui uma simples árvore de Cedro.
Onde eu nasci e cresci, haviam outras como eu, era uma colina...
De onde eu estava, era possível visualizar as edificações de uma cidade.
Eu era robusta, alta e bem copada.
Quando o sol batia em minhas folhas, eu podia projetar uma grande sombra.
Quando o vento soprava meus galhos, eu sentia a brisa marítima.
Eu sempre observava minhas irmãs serem cortadas, enquanto eu permanecia.
Então me tranquilizava, pois minha hora não havia chegado.
Um dia, vieram alguns homens, me observaram e me cortaram...
Separaram meu tronco e meus galhos.
E me transportaram até a Cidade.
Em um local ermo, transformaram meu tronco em dois sepos de madeira de tamanhos diferentes, mas que se encaixavam.
Eu havia deixado de ser uma árvore. Agora eu era uma cruz.
Levaram-me a um pátio, onde havia uma multidão crescente.
Ouvi murmúrios de tristeza...
Entregaram-me a um Homem, que foi colocado no meio do pátio.
Ele havia sido agredido e sangrava muito.
Quando Suas mãos me tocaram eu me senti árvore novamente.
Eu estava ligada a esse Homem como um ser único e senti todo seu sofrimento.
Enquanto Ele caminhava e me carregava, eu registrava toda a sua história.
Eu sentia seus sentimentos,  ouvia seus sermões e compreendia os milagres que Ele realizou...
Durante o percurso, eu devia pesar bastante, porque Ele tropeçava muito e me arrastava com dificuldade.
Porém, a sua fortaleza era maior que a sua fraqueza, pois Ele persistia e seguia...
Fui retirada de suas mãos por outro homem que me carregou por algum tempo.
Mesmo assim, continuei ligada àquele Homem.
Ouvi seu nome inúmeras vezes.
Em algumas vezes seu nome foi pronunciado com escárnio...
Em outras, seu nome foi murmurado com imensa tristeza.
Durante todo o trajeto, Ele seguiu calado e contemplativo.
Uma mulher se aproximou e  lhe limpou a face, outra lhe abraçou e outra chorou a seus pés.
Mas, Ele procurou afastá-las, para protegê-las.
Seguimos caminhando, Ele me arrastando...
Chegamos a uma elevação, um monte.
Eu fui retirada Dele e ajeitada no chão.
Pregaram uma placa com inscrições em meu topo.
Ele foi despido, xingado e agredido.
Suas vestes foram retiradas, algumas repartidas e outras rasgadas.
A sua cabeça foi coroada com espinhos e seu rosto foi sangrado.
Ele foi colocado estendido sobre a minha extensão.
Esticaram-lhe um dos braços e cravaram o primeiro prego em uma das mãos.
Depois fizeram o mesmo na outra mão.
Sobrepuseram seus pés e sobre eles pregaram outro prego - esse maior e mais profundo.
Quando me ergueram, percebi toda a intensidade da dor que O acompanhava.
Pensei: O que Ele fez para merecer isso?
Avistei mais dois lenhos serrados como eu, um à direita e outro à esquerda.
Um dos homens lhe xingou e o outro lhe fez pedidos.
Agora pensei: Ele deve ser importante!
Durante horas, alguns captores ainda o achincalhavam.
Algumas pessoas se acercaram Dele e observavam, enquanto, outras clamavam...
Ouvi quando Ele pediu água, mas lhe deram outra coisa...
Com dificuldade, percebi que Ele instruiu um grupo de pessoas.
Em especial, conversou com uma mulher que chorava.
Por fim, Ele fez uma oração, que mais parecia um lamento.
Eu percebi que o céu se modificou... E escureceu de repente.
Então, choveu... Uma chuva fria e forte.
E o tempo parou!
Aquele que me carregara exalou o último suspiro...
Foi quando um soldado certificou-se de sua morte.
Com uma lança, lhe perfurou o lado oposto ao do coração e se espantou!
Ouvi quando murmurou alguma coisa e saiu desalentado...
Horas depois, o mesmo grupo de pessoas aguardava, para retirar o corpo.
Descerraram-Lhe e começaram a retirar os pregos.
Senti uma tristeza profunda a me envolver...
Por um momento, me senti só e sem sentido.
Algumas pessoas cercaram o local onde eu estava e cochicharam entre si.
Limparam Seu Corpo e O levaram dali.
Enquanto eu estava no chão, algumas pessoas se acercaram de mim...
Rapidamente me pegaram e me retiraram dali.
Ouvi quando disseram:
"Essa Cruz deve ser preservada! Vamos escondê-la. Porque ela é a Cruz do Salvador!"
Então, meu lenho foi carregado. E me esconderam...
Com o tempo eu percebi que aquele Homem era muito mais que um simples homem...
Nesse momento, eu pensei que todo o meu propósito de lenho havia se cumprido.
Eu fui deixando de ser árvore, eu fui deixando de ser madeira, eu fui deixando de ser cruz.
Senti que de agora em diante, eu teria outro significado: "Eu começaria a ser Luz..."